As páginas de Arte Pré-histórica do Brasil podem ser lidas como inspiração a uma arqueologia da estética. André Prous mostra que as manifestações artísticas dos indígenas pré-históricos envolviam diferentes suportes e que até a observação de instrumentos utilitários de pedra, como pontas de flecha e lâminas de machado, pode nos levar a refletir sobre o deleite estético na produção material cotidiana. As “obras de arte” da pré-história são aqui representadas pelas pinturas e gravuras rupestres, pelas pinturas e gravuras em pedra e osso e pelos vasilhames, adornos e esculturas cerâmicas. Temse, assim, uma panorâmica das manifestações estéticas de maior destaque para cada época e região brasileira há milhares de anos atrás, acompanhadas por elementos de outros aspectos das sociedades que as produziram, como seu mundo mágico-religioso, organização social e economia. Informações e comparações possíveis com a cultura material de grupos indígenas vivos ou descritos pelos cronistas e viajantes históricos e com a iconografia cristã permeiam várias partes do texto. Estas informações ajudam a entender mais facilmente a lógica das classificações arqueológicas e a dar calor e movimento ao cenário de diversidade e riqueza artística que a arqueologia possibilita elaborar para a pré-história brasileira.
Este pequeno e valioso livro será, decerto, muito bem-vindo nas estantes de estudantes de graduação em humanidades e outros interessados em arqueologia, antropologia e história da arte. O leitor que desejar se aprofundar no assunto encontrará fontes básicas de pesquisa nas indicações de autores e das relações entre suas teorias e seu contexto sociocientífico, oferecidas no histórico das interpretações das artes pré-históricas e na exposição das diretrizes atuais de pesquisa no Brasil e no mundo. Por contribuir com a divulgação do patrimônio arqueológico brasileiro e de sua importância científica, Arte Pré-Histórica do Brasil vem ajudar a engrossar as fileiras de defesa e preservação deste patrimônio, ameaçado principalmente por sua falta de valorização.
Loredana Ribeiro